sábado, 12 de março de 2011

A Voz do Silêncio - Martha Medeiros




Pior do que a voz que cala é um silêncio que fala.
Simples, rápido. E quanta força.
 
Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois, você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
 
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.
Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.
 
Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
 
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.
 
Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.
 
É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.
 
Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
 
Quando nada é dito, nada fica combinado.
Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
'Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!'
 
É o silêncio de um mandando más notícias
para o desespero do outro.
É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
 
Para um cara que trabalha com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
 
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
 
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.
 
Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.
 
O único silêncio que perturba é aquele que fala.
E fala alto...
É quando ninguém bate à nossa porta...

não há recados na secretária eletrônica....
e mesmo assim você entende a mensagem.

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