segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O Valioso tempo dos Maduros



Contei meus anos e descobri que terei menos
tempo para viver daqui para a frente do que
já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu
uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas
percebendo que faltam
poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos
inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem
eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis,
para discutir
assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem
parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos,
quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado
de gente humana, muito humana; que sabe rir
de seus tropeços, não se encanta com triunfos,
não se considera eleita antes da hora, não foge
de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!


Mário Pinto de Andrade
Escritor e político angolano,
de nome completo:
Mário Coelho Pinto de Andrade.
(1928-1990)

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