sábado, 22 de janeiro de 2011

"...Quanto mais querida te for uma alma, tanto menos a explores, tanto mais lhe sirvas, sem nada esperar em retribuição. No dia e na hora em que uma alma impuser a outra alma um dever, uma obrigação, começa a agonia do amor, da amizade. Só num clima de absoluta espontaneidade pode viver esta plantinha delicada. E quando essa alma que te foi querida se afastar de ti, não a retenhas. Deixa que se vá em plena liberdade. Faze acompanhá-la dos anjos tutelares das tuas preces e saudades, para que em níveas asas a envolvam e de todo mal a defendam, mas não lhe peças que fique contigo. Mais amiga te será ela, em espontânea liberdade, longe de ti, do que em forçada escravidão, perto de ti.

Deixa que ela siga os seus caminhos, ainda que esses caminhos a conduzam aos confins do universo, a mais extrema distância do teu habitáculo corpóreo. Se entre essa alma e a tua existir afinidade espiritual, não há distância, não há em todo o universo espaço bastante grande que de ti possa alhear essa alma. Ainda que ela erguesse vôo e fixasse o seu tabernáculo para além das últimas praias do Sírio, para além das derradeiras fosforescências da Via-láctea, para além das mais longínquas nebulosas de mundos em formação, contigo estaria essa alma querida. Mas, se não vigorar afinidade espiritual entre ti e ela, poderá essa alma viver contigo sob o mesmo teto e contigo sentar-se à mesma mesa, não será tua, nem haverá entre vós verdadeira união e felicidade. Para o espírito, a proximidade espiritual é tudo, a distância material é nada. Compreende e vai para aonde quiseres! Ama e estarás sempre perto do ente amado, em todo o universo e dentro de ti mesmo"
(Khalil Gibran)

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